Eventos

A leitura liberta

“Quer dizer que, mesmo com meu corpo preso, posso me libertar através da leitura?” Foi esta a pergunta mais instigante que Ignacio de Loyola Brandão ouviu, ao fazer uma palestra para presidiários tempos atrás. Depois de contar este fato aos demais escritores e jornalistas participantes do último episódio da série "Arte e Cultura em busca de uma reinvenção permanente", ele arrematou o que estava flutuando na deliciosa hora e meia de conversa a quatro sobre literatura e pandemia: “Talvez a gente se humanize – eu quero acreditar -, mas acho que isso pode ser algo muito importante. O outro existe pra gente. De repente o outro precisa de mim e eu posso fazer alguma coisa. A mão que se estende, porque o outro está precisando. Palmas para a vida”.

Heloísa Seixas contou que está, junto com o também jornalista e escritor Ruy Castro, postando fotos no Instagram diariamente. E não quis arriscar se vai usar a pandemia como tema de um próximo livro: “Estou só observando. Sou como a criança que vai nas festas, não fala nada mas observa tudo atentamente. Misturar ficção com realidade me fascina. Meu tempo agora é de contemplação”.

Cassiano Elek Machado, editor da Planeta, contou que está lendo Raymond Chandler (“literatura policial jamais me encantou”), e que está descobrindo um mundo novo – ou seria escapismo?, ele mesmo se perguntou. Profissionalmente, como editor, revelou que “recebi pouca coisa relacionada à pandemia, em ficção. Não achei que seria o momento deste tipo de livro. Todos estão profundamente imersos na pandemia”.

Para quem já assistiu à live destes três escritores, mediada pela jornalista Maria Fernanda Rodrigues, fixou-se de vez o conceito de que a leitura é tão importante quanto a própria criação literária. Como, aliás, dizia o notável Jorge Louis Borges: “Deixo para os outros que se orgulhem do que escreveram; eu prefiro me orgulhar de minhas leituras”.

A série #CulturaeMemória

Durante a vigência das medidas de isolamento social, as artes e a cultura assumiram um espaço significativo nas nossas vidas - as tecnologias digitais e de rede quebraram o último portal que separava os espectadores, leitores e alunos das manifestações artísticas. 

Mas, nesse processo, quais mudanças de paradigmas na nossa relação com as artes foram operadas? E, indo além, como acontecerão os concertos, peças de teatro, e exibições de filmes ao final do isolamento social? 

Para pensar sobre esses temas, a série Arte & cultura em busca de uma reinvenção permanente, com a curadoria de João Marcos Coelho, trouxe especialistas nos temas para refletirmos juntos, em 10 episódios, sobre esses caminhos e possibilidades.