Destacamos aqui um folheto produzido pela Companhia Hidrelétrica do São Francisco – CHESF, em 1955. O documento apresenta alguns aspectos do aproveitamento hidráulico da cachoeira de Paulo Afonso pela empresa, e suscita o cenário de desenvolvimento e pioneirismo do setor de energia elétrica naquele período.
Constituída em 15 de março de 1948, a CHESF foi a empresa responsável pela construção do Complexo Hidrelétrico de Paulo Afonso. Com a intenção de ampliar a oferta de energia elétrica aos estados do Nordeste, a Companhia inaugurou em 1955 a primeira usina do Complexo, a Hidrelétrica Paulo Afonso I.
Os estudos preliminares de aproveitamento do potencial hidrelétrico ficaram a cargo do engenheiro Octávio Marcondes Ferraz, junto a outros importantes nomes que atuaram no cenário energético e político do Brasil. O projeto definitivo foi baseado em minucioso levantamento topográfico e em sondagens geológicas da cachoeira de Paulo Afonso e da área vizinha.
Construída junto a cachoeira, no rio São Francisco, a cerca de 250 quilômetros da sua foz no Oceano Atlântico, a usina tinha como meta a produção de 120.000 kw, podendo atingir um aumento gradual de até 1.000.000 de kw.
O documento aponta que essa quantidade de energia seria progressivamente posta a serviço de uma extensa região caracterizada pela escassez de chuvas e pela emigração.
Trata-se da região Nordeste, caracterizada em grande parte pela escassez e, periodicamente pela falta absoluta das chuvas, de onde emigram anualmente milhares de pessoas para o Sul do país, porque a agricultura e a indústria não tem capacidade para rete-las. [...] A presença da energia elétrica abundante vai operar uma radical transformação no Nordeste, permitindo-lhe ter um parque industrial próprio e uma agricultura progressista, ja que esta, em terras secas só se torna possível com o bombeamento dágua e a irrigação. Assim, a energia elétrica será o principal fator de equilíbrio entre as duas regiões do país.
A UHE Paulo Afonso foi considerada um empreendimento pioneiro naquele período e suas obras foram realizadas diretamente pela Chesf. Todo o processo de construção estava a cargo de engenheiros, técnicos e operários da própria companhia, ficando apenas a instalação das linhas de transmissão e das quatro primeiras subestações, sob a responsabilidade de uma empresa norte-americana Morrison-Knudsen.
Entre as muitas informações apresentadas no documento, destacam-se os trabalhos sociais e os de viabilidade do transporte e do processo de comunicação durante as obras. A solução encontrada na época para a locomoção segura do maquinário e material foi a organização de uma frota de caminhões, já para a comunicação estabeleceram um serviço próprio de rádio-telegrafia, o que permitiu uma assídua troca de correspondências, ações indispensáveis para manter o ritmo da construção.
Ainda tentando atenuar as dificuldades de locomoção dos muitos trabalhadores que atuaram no processo de construção de Paulo Afonso I, a Chesf criou uma espécie de "pequena cidade" para moradia de engenheiros, empregados do escritório, mestres e operários, destinados a permanecer no local durante o período de obras e expansão da usina. Com uma população de aproximadamente 4.500 pessoas, foram institucionalizados espaços educativos e assistenciais, como escolas, hospitais, restaurantes, lojas, clubes sociais e igrejas.
Em resumo, o folheto da Chesf é um relevante registro histórico sobre um dos muitos marcos da engenharia nacional, apresentando, em um contexto mais amplo, um pouco sobre a conjuntura político-social brasileira da década de 1950. Assinado por membros da diretoria executiva, o folheto revela parte da história da Companhia e traz informações relevantes sobre o empreendimento, pontuando aspectos importantes do processo de construção e funcionamento da Usina de Paulo Afonso.
Abaixo, estão algumas das imagens que compõe o folheto institucional.
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