Centenário de Mario Bhering é celebrado em cerimônia marcada pela emoção

Postado em 01/12/2022
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Augusto Rodrigues, presidente da Memória da Eletricidade, e Wilson Ferreira Junior, presidente da Eletrobras (Foto: Marcus Knoedt)

Para celebrar o centenário de nascimento de Mario Penna Bhering, ex-presidente da Eletrobras, fundador da Memória da Eletricidade e figura fundamental na construção da usina de Itaipu, a Memória da Eletricidade promoveu uma cerimônia na noite desta quarta-feira, 30 de novembro, no Museu de Arte Moderna (MAM) do Rio de Janeiro. A festa, marcada por momentos de emoção, teve como pontos altos a entrega do Prêmio Mario Bhering de Preservação e Memória e o lançamento do livro de arte e da exposição virtual“100 anos de Mario Bhering”. 

Tendo Augusto Rodrigues, presidente da Memória da Eletricidade, como anfitrião e a presença de Alida e Letícia Bhering, filhas do homenageado, o Prêmio Mario Bhering de Preservação e Memória chega à sua quarta edição. Criado em 2017 para homenagear as empresas do setor elétrico que tenham contribuído com serviços e ações relevantes para o setor de energia elétrica nacional, particularmente nas áreas de memória, cultura e ações socioambientais, a iniciativa foi suspensa durante dois anos em decorrência da pandemia de Covid. Além dos prêmios principais, ainda foi prestada uma homenagem a pessoas que representam os valores humanistas de Mario Bhering.

No discurso de abertura da cerimônia, o presidente da Eletrobras, Wilson Ferreira Junior, destacou três qualidades do homenageado, tanto como engenheiro e gestor quanto como humanista:

– Ele tinha três características: a racionalidade do estrategista, a sensibilidade do pintor e a paciência do pescador. Tive a felicidade de conviver profissionalmente com ele durante dois anos. E hoje é um prazer dizer que a sede da Eletrobras fica no edifício Mario Bhering. Ele foi um pioneiro, um desbravador. Portanto, celebrar a história de Mario Bhering é tornar seu legado perene. Isso serve de inspiração para muitas gerações. Parabenizo a Memória da Eletricidade pela iniciativa.

A memória das empresas conta a história do país

Letícia e Alida Bhering (Foto: Rogério Resende)

Ao lado da irmã Alida, Letícia Bhering, fez um depoimento emocionado do pai:

– Mario Bhering acreditava, como muitos de nós, que a memória das empresas conta a história do país, das revoluções tecnológicas, dos tempos de crise, dos acordos diplomáticos. Para mim, é uma alegria ver a Memória da Eletricidade permanecer discutindo tendências e apontando caminhos para o setor elétrico. As ações de celebração do centenário de meu pai resgatam sua essência tendo por base o seu perfil humanista e artístico, um pensador e executor de ideias em palavras e imagens.

Alida Bhering emocionou-se ao falar do pai:

– Estou muito emocionada. Eu não esperava por isso. Meu pai foi meu melhor amigo. Ele faz uma falta enorme. Tinha uma admiração desde pequena. Eu nasci junto com a Cemig, no mesmo ano. E cresci acompanhando a ascensão do papai, com aquele equilíbrio, aquele bom humor. E aquelas aquarelas, que eram onde ele dependia só dele e não de uma equipe. Sempre perguntava o que achávamos. Ele adorava gente, adorava rir. Estou muito emocionada e muito agradecida.

Paulo Roberto Ribeiro Pinto, diretor presidente da Norte Energia, destacou a importância da preservação da memória para o desenvolvimento do setor elétrico.

– Comecei na Eletrobras em 1971 e acompanhei a primeira fase do doutor Mario Bhering na empresa e também a segunda, quando ele criou a Memória da Eletricidade – lembrou Ribeiro Pinto, um dos homenageados da noite. – Então, tenho um carinho muito grande pela Memória da Eletricidade e pelo que a instituição representa. Isso fica mais vivo nos dias de hoje, quando você percebe que o processo decisório de coisas importantes do setor elétrico não tem uma participação efetiva de quem fez a história do setor. Hoje, como presidente da Norte Energia, posso dizer que temos uma parceria grande com a Memória da Eletricidade, projetos grandes com a instituição e vamos continuar incentivando esse tipo de coisa. Do Mario Bhering, fica uma saudade muito grande, mas ficou um aprendizado enorme. 

Futuro a partir de bases sólidas do passado

José Luiz Alquéres, consultor e conselheiro do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri) e ex-presidente da Eletrobras, elogiou a iniciativa da Memória da Eletricidade de premiar projetos de preservação dentro de empresas e instituições:

– Nós tivemos hoje na comemoração do centenário de Mario Bhering, a premiação de empresas e pessoas que tiveram uma atividade relevante na preservação da memória do setor elétrico brasileiro. Isso é muito importante porque um país se faz com ambições de crescimento, com competência tecnológica, mas especialmente com o respeito à herança de saberes. Nesse ponto, Mario Bhering ajudou a criar essa consciência. E a gente vai para a frente quando estabelece um futuro sobre as sólidas bases construídas no passado.

Claudia Trigueiro, diretora executiva interina da Memória da Eletricidade, Estela Alves (Light), Luiz Carlos Ciocchi (diretor geral da ONS) e Augusto Rodrigues (Foto: Marcus Knoedt)

Premiada na categoria Instituições de Cultura e Memória, a Light foi representada por Estela Alves, gerente do Centro Cultural Light e responsável pelo programa educativo da instituição. A iniciativa agraciada foi o projeto do Museu Light da Energia, inaugurado em 2012 e reformulado em 2022.

– O Prêmio Mario Bhering de Preservação e Memória é muito importante não só para o setor, mas também para o próprio incentivo ao investimento por parte do setor elétrico em projetos de educação e de conscientização em relação à sustentabilidade – elogiou Estela Alves. – E um dos principais caminhos é essa ponte que a gente faz com as escolas, do ensino infantil ao médio, passando pelo ensino de jovens adultos. Quando se fala de eficiência energética, se fala de mudança de pequenos hábitos do dia a dia e o outro é uma consciência mais ligada ao equipamento, como consumidor. E isso é passado de forma lúdica nas atividades do próprio museu.

Bhering, a estrela mais brilhante do setor elétrico brasileiro

Claudia Trigueiro, Caio Pompeu, diretor presidente de Furnas, Claudio Bianchini (Cemig) e Augusto Rodrigues (Foto: Marcus Knoedt)

Na categoria Preservação do Patrimônio Histórico, o prêmio foi para a Cemig pela gestão do Museu de Marmelos Zero. Celso Noronha, gestor da instituição, localizada em Juiz de Fora, contou sobre o projeto de ampliação da sede.

– O museu está sendo ampliado. O local do museu propriamente dito é uma sala de 30 metros quadrados, onde funcionava a primeira usina da América Latina, há 140 anos. É muito pequeno e não comporta um projeto museológico de mais fôlego, como os projetos que fazemos com crianças, das escolas da região. Nós pegamos um galpão dentro do sítio, que é muito grande, e onde a usina de Marmelos está em operação. Esse galpão tem em torno de 300 metros quadrados e é onde vamos fazer uma ampliação e vai virar um memorial, onde vamos conseguir botar um grande volume de acervo – adiantou Celso Noronha. – No futuro, esse memorial vai funcionar como um Museu da Eletricidade. E a casinha do museu vai ficar mais para as atividades com as crianças. As obras no galpão devem começar em janeiro de 2023 e vamos gastar em torno de dois milhões de reais.

Altino Ventura, ex-diretor técnico executivo da Itaipu Binacional e ex-presidente da Eletrobras, lembrou a importância de Mario Bhering para a construção de Itaipu.

– O setor elétrico brasileiro na segunda metade do século passado, depois que foi criada a Eletrobras em 1962, deve muito a Mario Bhering, que praticamente foi o homem que fez a Eletrobras. Ele tinha uma visão de longo prazo e criou uma empresa que tratava de tudo que era importante em energia elétrica: planejamento, operação, relação com a indústria, interligação dos sistemas, hidroeletricidade – elogiou Altino Ventura, também homenageado. – Com isso, o Brasil adquiriu uma experiência e um domínio na hidroeletricidade que nos tornou líderes mundiais. E o exemplo mais importante foi a Usina de Itaipu, construída na gestão de Mario Bhering. E não falo só da engenharia, mas da organização do tratado, da engenharia financeira. Da constelação de brasileiros que botou de pé o setor elétrico brasileiro, não tenho nenhuma dúvida em dizer que ele foi a estrela mais brilhante.

O pioneirismo de Mario Bhering na questão ambiental

Augusto Rodrigues, Tatiara Damas Ribeiro (Itaipu) e Claudia Trigueiro (Foto: Rogério Resende)

Premiada na categoria Memória Empresarial, a Itaipu Binacional foi representada pela responsável pela Divisão de Educação Ambiental da Itaipu, Tatiara Damas Ribeiro. A escolha se deveu ao desenvolvimento do projeto de gestão integrada para levantamento, preservação e difusão da memória institucional da Itaipu Binacional, promovido pelo Ecomuseu.

– A Itaipu tem um longo trabalho com a memória, desde a criação do Ecomuseu de Itaipu, em 1987. Temos centro de documentação contábil, arquivo técnico. Faltava uma integração. Pensamos, a partir do fundamento da museologia social, que é base de trabalho do Ecomuseu, num trabalho para ativar todas essas áreas direta ou indiretamente - contou Tatiana Damas Ribeiro. – E também um trabalho diretamente com os funcionários da empresa, para que pudéssemos preservar o patrimônio da instituição. Fizemos um diagnóstico de atuação das áreas para poder planejar essa integração e atuar cada vez mais próximo do cotidiano de Itaipu. O trabalho começou em 2020. A partir do ano que vem, começamos o trabalho para integrar de fato as áreas. A ideia institucionalizar na empresa a preservação da memória.

Maria Teresa Serra, ex-diretora da área ambiental da Eletrobras e primeira mulher a assumir uma diretoria na empresa, também foi homenageada como personalidade do setor. Ela lembrou o convívio com Mario Bhering.

– Em meados da década de 80, a questão ambiental se tornou uma questão fundamental, crescente e preocupante. O setor elétrico já trabalhava com essas questões, mas de maneira pontual. O setor carecia de uma abordagem geral, de ação que constituísse uma postura clara e que servisse de base para um diálogo com a sociedade. Doutor Mario Bhering foi uma peça-chave disso - lembrou Maria Teresa Serra. – Ele era presidente da Eletrobras na época e percebeu a absoluta necessidade de alterar a maneira como o setor vinha trabalhando a questão ambiental. E ele tinha todas as qualidades técnicas e estratégicas para isso. Foi uma liderança especial.

No fim da cerimônia, Augusto Rodrigues, presidente da Memória da Eletricidade, despediu-se dos premiados e convidados, destacando a parceria com as empresas do setor e a necessidade de desenvolver mais projetos de preservação.

Os premiados:

Prêmio Responsabilidade Histórica e Social –CPFL Energia, pela atuação do Instituto CPFL em projetos sociais, esportivos e culturais.

Claudia Trigueiro, Mário Mazzilli (CPFL) e Augusto Rodrigues (Foto: Rogério Resende)

Outros premiados por categoria:

Preservação de Acervos —Eletrobras, pela doação de Acervo Histórico.

Iniciativas Individuais de Preservação — Joubert Diniz, doador da Memória da Eletricidade.

Claudia Trigueiro, Augusto Rodrigues, Amanda Carvalho, gerente de Acervo e Pesquisa da Memória da Eletricidade, e Mônica Ann Diniz, filha de Joubert Diniz (Foto: Marcus Knoedt)

Memória Empresarial — Itaipu Binacional, pelo projeto de gestão integrada para levantamento, preservação e difusão da memória institucional da ITAIPU Binacional, promovido pelo Ecomuseu.

Memória e Inovação —Energisa, pela criação do 1º Centro de Inteligência Artificial do Setor Elétrico Digital Labs.

Augusto Rodrigues, Claudia Trigueiro, Lucas Pinz (Energisa) e Amilcar Guerreiro, diretor-geral do Cepel (Foto: Marcus Knoedt)

Memória e Representatividade —Enel, pela websérie Mulheres de Energia.

Augusto Rodrigues, Guilherme Lencastre (Enel) e Claudia Trigueiro (Foto: Marcus Knoedt)

Comunicação Empresarial —Norte Energia, pelo programa Conheça Belo Monte.

Augusto Rodrigues, Claudia Trigueiro, Paulo Roberto Ribeiro Pinto (Norte Energia) e Leonam dos Santos Guimarães, assessor especial da presidência da Eletronuclear (Foto: Marcus Knoedt)

Preservação do Patrimônio Arquitetônico —Cemig, pelo Museu de Marmelos.

Instituições de Cultura e Memória —Light, pelo Museu Light da Energia.

Preservação e Difusão Cultural —EDP Brasil, pelo projeto Biblioteca Comunitária.

Claudia Trigueiro, Augusto Rodrigues, Luiz Otávio Henriques (EDP) e Eduardo Mello, superintendente de comercialização da ENBPAR (Foto: Rogério Resende)

Homenagem a pessoas que representam os valores humanistas de Mario Bhering:

Letícia Bhering e Alida Bhering, representando a família Bhering

Paulo Roberto Ribeiro Pinto, diretor presidente da Norte Energia

Flavio Decat, ex-presidente de Furnas

Maria Teresa Serra, ex-diretora da área ambiental da Eletrobras

Altino Ventura, ex-diretor técnico executivo da Itaipu Binacional e ex-presidente da Eletrobras

José Luiz Alquéres, consultor e conselheiro do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri) e ex-presidente da Eletrobras

Mario Santos, ex-presidente do ONS e da Endesa Brasil

O projeto "100 anos de Mario Bhering" tem patrocínio de Itaipu Binacional e Norte Energia/Usina Hidrelétrica de Belo Monte e apoio de Energisa e Eletrobras Furnas.