Light
A história do grupo Light no Brasil se inicia no ano de 1897, quando o capitão da Marinha italiana e homem de negócios Francesco Antonio Gualco, residente no Canadá, e o comendador Antônio Augusto de Sousa obtiveram da Câmara Municipal de São Paulo a concessão do serviço de transporte urbano de passageiros e cargas em bondes elétricos, por um prazo de 40 anos.
Nesse mesmo ano, o engenheiro e capitalista norte-americano Frederick Stark Pearson, em viagem de férias ao Brasil, visitou a capital paulista. Certo de que o processo de expansão urbana por que passava a cidade exigiria a instalação de linhas de bondes por tração elétrica, Pearson voltou aos EUA em busca de financiamento para o projeto, estabelecendo os primeiros contatos com Gualco.
Orientados por Pearson, Gualco e o comendador Sousa receberam, em dezembro de 1898, autorização da Câmara Municipal de São Paulo para ampliar a concessão original, permitindo a instalação de novas linhas de bondes.
Em abril de 1899, em Toronto, no Canadá, foi fundada a São Paulo Tramway, Light and Power Company, e em julho do mesmo ano, foi autorizada, por decreto do presidente Campos Sales, a atuar no Brasil. Sua atuação em São Paulo começou no mesmo ano, através da construção da Usina Hidrelétrica Parnaíba, concluída em 1901, posteriormente passando a operar os serviços de geração e distribuição de energia elétrica e bondes elétricos do município de São Paulo.
O objetivo da São Paulo Light and Power ia além da produção, da utilização e da venda de eletricidade, gerada por qualquer tipo de força (vapor, gás, pneumática, mecânica e hidráulica), abrangendo igualmente o estabelecimento de linhas férreas, telegráficas e telefônicas. A partir do sucesso da operação paulista, no dia 9 de junho de 1904, os mesmos sócios canadenses criaram no Canadá a Rio de Janeiro Tramway, Light and Power Company, o primeiro nome da Light no Rio de Janeiro, que recebeu autorização governamental para funcionar no Rio de Janeiro em 30 de maio de 1905.
Nesse mesmo ano a empresa adquiriu o controle acionário da concessionária de iluminação a gás, a empresa belga Société Anonyme du Gás de Rio de Janeiro, serviço que foi controlado pela Light até 1969, quando foi transferido para o governo estadual.
Em 1905, o Brasil ainda não era um país industrializado e a Light dava início à construção da então maior e mais moderna usina hidrelétrica do país, a Usina de Fontes, situada no município de Piraí, no estado do Rio de Janeiro.
Nas décadas seguintes, conforme o Rio de Janeiro crescia, entraram em operação outras usinas: Ilha dos Pombos (1924), de Fontes Nova (1940), Santa Cecília (1952), Vigário (1952), Nilo Peçanha (1953) e Pereira Passos (1962). Também em 1905 adquiriu de um consórcio alemão a concessão do serviço telefônico na cidade do Rio de Janeiro, criando a Rio de Janeiro Telephone Company em 1907.
Em 1907, a Light adquiriu e unificou diversas companhias de bondes e carris urbanos que funcionavam na cidade, controlando o serviço até 1963, alargando a zona urbana do Rio de Janeiro, contribuindo para o surgimento de vários bairros como Leme, Copacabana, Ipanema e Leblon. Além dos bondes, em 1918 investiu no ônibus elétrico que percorria a avenida Rio Branco e que circulou até 1927. Um ano antes, criou a Viação Excelsior, os modernos ônibus com cigarra e cobrador. Em 1928, surge o Imperial, ônibus de dois andares, logo apelidado de chope duplo pelo carioca, que utilizou a condução até 1948.
A partir de 1912, a Rio de Janeiro Tramway, Light and Power Company passa a ser controlada pela holding canadense Brazilian Traction Light and Power Co. Ltd., que também se transforma em controladora da São Paulo Tramway, Light and Power Company. A holding adquiriu ainda a concessão do serviço telefônico na cidade de São Paulo, com a incorporação da Companhia Telefônica do Estado de São Paulo, passando a controlar no ano de 1916 as comunicações nas duas principais cidades do país (Rio de Janeiro e São Paulo) com a criação da Rio de Janeiro and São Paulo Telephone Company, que em 1923 passa a se chamar Companhia Telefônica Brasileira (CTB).
Em 1966 a CTB é transferida para o governo federal. Ao longo de quase cinquenta anos a vida e a aparência da cidade do Rio de Janeiro foi modificada pela empresa, que substituiu o bonde puxado a burro pelo elétrico, o lampião a gás pela luz elétrica, o fogão a lenha pelo gás canalizado, o mensageiro pelo telefone. Em 1956, a holding Brazilian Traction Light and Power Co. Ltd. começa a atuar em inúmeros ramos, dentre os quais o imobiliário, hoteleiro, serviços de engenharia, agropecuária, entre outros, e muda de nome, passando-se a chamar Brascan - Brasil Canadá Ltda.
A empresa São Paulo Tramway, Light and Power Company se funde com a Rio de Janeiro Tramway, Light and Power Company, numa única razão social, agora chamada de Light – Serviços de Eletricidade S/A, vinculada à Brascan Ltda. A partir daí, o nome Light, já popularizado e consagrado pela população dos dois estados, seria a razão social da empresa.
No final da década de 1970, o contrato de concessão da Light – Serviços de Eletricidade S/A com o governo federal, assinado no início do século e com validade de setenta anos seria encerrado, com a entrega dos ativos investidos pela empresa ao governo brasileiro. Porém, o então ministro das minas e energia Shigeaki Ueki, através da Eletrobrás, adquiriu o controle acionário da Light – Serviços de Eletricidade S/A e estatizou-a. A justificativa oficial para a compra era a de que esta se fazia necessária, pois só tendo o governo como mediador a empresa conseguiria os empréstimos externos necessários aos investimentos na expansão de seus sistemas. Sem isso, o próprio desenvolvimento industrial das cidades do eixo Rio – São Paulo estaria em risco.
A compra da Light marcou a conclusão do processo de nacionalização do setor de energia elétrica, iniciado em 1961 com a aprovação da lei que criou a Eletrobras, consagrando a adoção da solução estatizante para o setor. Na sequência, em 1981 o governo do estado de São Paulo adquiriu a parte paulista da Light e criou a sua própria empresa de energia, com o nome de Eletropaulo. A parte fluminense da Light, por outro lado, virou uma empresa estatal federal voltada à holding estatal federal Eletrobras, com a mesma denominação de antigamente, Light Rio ou Light, sendo uma das principais empresas estatais do estado e mantendo a responsabilidade pelo fornecimento de energia elétrica nas principais cidades da Região Metropolitana do Rio de Janeiro e do Vale do Paraíba Fluminense.
A Light foi privatizada pelo programa federal de desestatização através de leilão na Bolsa de Valores do Rio de Janeiro, em 21 de maio de 1996, onde os compradores da empresa foram as empresas/consórcios: Rio Minas Energia Participações S.A. (RME) composta pela Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), Andrade Gutierrez Concessões S.A. (AG Concessões), Pactual Energia Participações S.A. (Pactual Energia) e Luce Brasil Fundo de Investimentos em Participações (Luce); AES Corporation, Reliant Energy e Companhia Siderúrgica Nacional; EDF International, vinculada à empresa francesa Électricité de France - (EDF). Estas empresas passaram a controlar cerca de oitenta por cento do capital da Light Rio, sendo os outros 20,6 por cento pertencentes acionistas minoritários. Em fevereiro de 2002, foi concluído o processo de reestruturação societária, consolidando a EDF como principal acionista/acionista controladora da Light.
Para cumprimento da legislação vigente sobre o setor elétrico, em que as atividades de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica precisam ser alocadas em empresas diferentes, foi efetuado o processo de desverticalização da Light em 2005, originando as seguintes empresas: Light Energia S.A., responsável pela geração/transmissão; Light Serviços de Eletricidade S.A., responsável pela distribuição; Light Esco Ltda, comercializadora; Holding Light S.A., controladora das três operacionais. Estas empresas formam, atualmente, o Grupo Light.
Em 28 de março de 2006, foi celebrado o Contrato de Compra e Venda de Ações entre a EDF International S.A (EDFI) e a Rio Minas Energia Participações S.A. (RME), sendo assim a empresa RME a única controladora das empresas do grupo, com 52.46% da Light. Em dezembro de 2009, a Companhia Energética de Minas Gerais comprou as ações da Andrade Gutierrez Concessões S.A. (AG Concessões), Pactual Energia Participações S.A. (Pactual Energia) e Luce Brasil Fundo de Investimentos em Participações (Luce) e tonou-se assim a única acionista da RME, com 52,46 por cento da Light S.A.
Em julho de 2019 foi concluído o processo de oferta pública de distribuição primária e secundária de ações da Light S.A. Como resultado, a CEMIG (Companhia Energética de Minas Gerais) vendeu parte de suas ações, reduzindo sua participação para 22,6%. Dessa forma, a Light tornou-se uma full corporation.
Atualmente sua presença ocorre em 31 municípios do Estado do Rio de Janeiro, abrangendo uma região com mais de 10 milhões de pessoas. Com sede na cidade do Rio de Janeiro, o Grupo Light é constituído pelas empresas Light S.A. (holding); Light Serviços de Eletricidade S.A. (Light SESA), de distribuição de energia; Light Energia S.A. (Light Energia), de geração de energia, Lightger S.A. (Lightger), responsável pelo empreendimento PCH Paracambi; Itaocara Energia Ltda. (Itaocara); Amazônia Energia Participações S.A. (Amazônia), para participação no projeto da UHE Belo Monte; Light Esco Prestação de Serviços S.A. (Light Esco) e Lightcom Comercializadora de Energia S.A. (Lightcom), ambas em comercialização; Light Soluções em Eletricidade Ltda. (Light Soluções); Energia Olimpica S.A. (Olímpica); Axxiom Soluções Tecnológicas S.A. (Axxiom), de serviços; Instituto Light. Além disso, o grupo Light possui o Centro Cultural Light, que é um centro cultural localizado no Centro da cidade do Rio de Janeiro.
Referências utilizadas:
CENTRO DA MEMÓRIA DA ELETRICIDADE NO BRASIL. Panorama do setor de energia elétrica do Brasil. 2. ed. Rio de Janeiro (RJ): Memória da Eletricidade, 2006.