O concretismo como estopim de uma Revolução nas artes brasileiras dos anos 1960/70

Postado em 24/08/2021
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Quando o então estudante de direito Augusto de Campos publicou aos 20 anos em 1951 seu primeiro livro, “Rei menos o reino”, iniciava-se um ciclo virtuoso que culminaria pouco tempo depois na Poesia Concreta, uma criação de Augusto e seu irmão Haroldo de Campos, ao lado de Décio Pignatari. Os três romperam com o Clube de Poesia e lançaram a revista “Noigandres”. Usando recursos visuais como a disposição geométrica das palavras na página, a aplicação de cores e de diferentes tipos de letras, Augusto criou "Poetamenos" (1953), "Pop-cretos" (1964), "Poemóbiles" (1974) e "Caixa preta" (1975). Boa parte dessa produção está reunida nas coletâneas "Viva vaia" (1979), "Despoesia" (1994) e "Não" (2004).

 Além de traduzir Stéphane Mallarmé, James Joyce, Ezra Pound, Vladimir Maiakóvski, Arnaut Daniel e E. E. Cummings, entre outros, Augusto publicou as antologias "Re-visão de Sousândrade" (1964) e "Re-visão de Kilkerry" (1971). Seus textos críticos podem ser lidos em "Teoria da poesia concreta", "Balanço da bossa", "À margem da margem" e "O Anti-crítico", entre outros. Sua obra dialoga com a música, tem parceria em canções gravadas por Caetano Veloso e Arrigo Barnabé.

O filho de Augusto, Cid Campos, nascido em 1958, cresceu convivendo com os criadores da poesia concreta. E ocupou, dentro de casa, um espaço que parecia vago, o de músico-chave na parceria com o pai Augusto, com quem gravou o CD Poesia é Risco.

Shows particulares de Tom Zé e Novos Baianos

Aos poucos, como contou na live da quinta-feira, dia 2 de agosto (que você pode assistir no canal da memória da eletricidade), Cid fimou-se como músico, compositor e produtor musical.

– Também pudera – disse. – Ainda pequeno eu ouvia em casa Webern, Cage, Varèse, Stockhausen, Beatles, Hendrix, Janis Joplin, João Gilberto e ainda por cima assistia a shows particulares de Caetano, Tom Zé, Novos Baianos.

Daí para a frente, Cid participou dos grupos Papa Poluição e Sexo dos Anjos, e conviveu com a novíssima geração da música popular pós-tropicalista, como Walter Franco e Arrigo Barnabé.

Uma conversa muito rica, regada a áudios raros como os de Oswald de Andrade lendo seus poemas com seu jeitão muito particular; um audiovisual criado por Cid Campos em torno da canção mais emblemática da música nova brasileira, “Beba Coca-Cola”, composição de Gilberto Mendes sobre poema de Décio Pignatari.

Live teve canja ao vivo

Uma maravilhosa viagem pela criatividade muito refinada da família Campos, incluindo duas performances ao vivo do próprio Cid cantando e tocando violão em duas de suas composições que estão no seu álbum “Emily”, de 2017. Uma preciosidade: Augusto traduziu poemas de Emily Dickinson, poeta norte-americana do século XIX, Cid compôs a música. Treze poemas-canções deliciosos, como “Ata-me – eu canto assim”, que Cid interpretou ao vivo na live:

Ata-me – eu canto assim –
Bane-me – um bandolim
Soa, dentro de mim – 

Mata-me – a Alma ainda
Canta até o Paraíso –
Tua até o fim –

Sobre a série Semana de Arte Moderna de 1922: Passado, Presente e Futuro

A série de lives "Semana de Arte Moderna de 1922: Passado, Presente e Futuro" tem por objetivo construir, às vésperas da celebração do centenário da Semana de Arte Moderna de 1922, um amplo, diversificado e profundo painel da arte e da cultura brasileira. Com curadoria e apresentação do jornalista e crítico musical João Marcos Coelho, os bate-papos são transmitidos pela página da Memória da Eletricidade no Youtube, sempre às quintas-feiras, às 18h.