A pandemia e o ensino remoto

Postado em 22/03/2021
Igor Sacramento

Igor Sacramento é doutor em Comunicação e Cultura pela UFRJ e pesquisador em Saúde Pública pela Fiocruz. Na UFRJ, é professor do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura e pesquisador do Núcleo de Estudos e Projetos em Comunicação. Na Fiocruz, além de editor científico da Revista de Comunicação, Informação e Inovação em Saúde, é professor do Programa de Pós-Graduação em Informação e Comunicação em Saúde e pesquisador do Laboratório de Pesquisa em Comunicação e Saúde. Na Memória, colabora com as lives "Memórias da Pandemia".

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A Organização Mundial da Saúde declarou, em março de 2020, a Covid-19 como uma pandemia que representa uma ameaça contemporânea para a humanidade. Esta pandemia forçou com sucesso o encerramento global de várias atividades, incluindo atividades educacionais, e isso resultou em um tremendo desafio às escolas e universidades com a migração para o ensino remoto. Esta pandemia forçou o fechamento físico global de empresas, atividades esportivas e escolas, levando todas as instituições a migrar para as plataformas online. A aprendizagem online é o uso da internet e de algumas outras tecnologias importantes para desenvolver materiais para fins educacionais, entrega de instrução e gerenciamento de programa (Fry, 2001). Hrastinski (2008) afirmou que os dois tipos de aprendizagem online, nomeadamente aprendizagem online assíncrona e síncrona, são comparados, mas para que a aprendizagem online seja eficaz e eficiente, os instrutores, organizações e instituições devem ter uma compreensão abrangente dos benefícios e limitações.

Em março de 2020, em um momento de grandes desafios causados pelo Covid-19, a Memória da Eletricidade lançou #MemóriaDaPandemia, uma série de lives nos seus canais oficiais no Instagram, Facebook e YouTube. O projeto atende à demanda por informações seguras e debates qualificados nas áreas de Saúde, Arte & Cultura e Gestão & Liderança. Com curadoria e apresentação do professor Igor Sacramento, doutor em Comunicação e Cultura pela UFRJ e pesquisador em Saúde Pública pela Fiocruz. Os episódios de #MemóriaDaPandemia são transmitidos todas as segundas, quartas e sextas-feiras, às 10h.

Na live com o sociólogo e presidente do Conselho Nacional de Educação (CNE), Luiz Roberto Curi, soubemos que o aprendizado online é muito diferente do ensino remoto de emergência. A transformação digital não é um fenômeno novo e tem acompanhado as instituições de ensino superior há alguns anos. Essa transformação, para alguns, vem ganhando impulso como substituto da sala de aula presencial habitual. Para outros, é preciso criar estratégias de aprendizagem que permitam mesclar o presencial com o online. Não temos dúvidas sobre a onipresença digital de nosso tempo. No entanto, como alerta o professor, não podemos culpar as tecnologias de comunicação online pelo desinteresse dos jovens pela escola ou pela universidade. 

Desigualdades sociais e outros desafios

Para garantir a continuidade da educação para os alunos, as aulas presenciais foram transferidas para o ambiente online, inaugurando uma nova versão do aprendizado online em que palestras, aulas e todas as atividades de aprendizagem são realizadas remotamente. A aprendizagem online não é nova. Já fazia parte do currículo de muitas escolas e universidades. Os alunos geralmente estão familiarizados com os diferentes aspectos da aprendizagem online através do uso do Moodle, Blackboard e outros sistemas de gerenciamento de aprendizagem. No entanto, em sociedades em desenvolvimento como o Brasil, há inúmeras desigualdades sociais. Muitos alunos não contam com computador exclusivo em casa, com conexão de alta velocidade e estável. Isso levou que muitas universidades, por exemplo, tivessem que, antes de migrar para o ensino remoto, garantir o acesso remoto a alunos sem condições para tanto, por meio da distribuição de tablets com acesso a internet. 

Como escolas e universidades foram obrigadas a fechar para conter a disseminação do novo coronavírus, as aulas físicas tradicionais foram transferidas para um modo online de aprendizagem. A transição foi abrupta, apresentando muitos desafios para alunos, professores, administrações escolares e até mesmo para os pais. Os desafios podem variar entre países, sistemas, instituições e grupos de alunos. 

Mesmo que o aprendizado online não seja um fenômeno novo, essa transformação repentina no aprendizado online apresentou desafios substanciais para as atividades educacionais em todo o mundo, e particularmente em ambientes com poucos recursos, como o Brasil, onde instituições educacionais, professores e alunos geralmente não estão prontos para isso interrupção inesperada dos métodos tradicionais de ensino e aprendizagem.

Os principais desafios estão relacionados à infraestrutura tecnológica e competência digital, fatores socioeconômicos (desigualdade educacional), avaliação e supervisão, carga de trabalho pesada e compatibilidade. Algumas disciplinas como educação física e artes requerem interações físicas. Por sua natureza, a aprendizagem online depende inteiramente de dispositivos tecnológicos e da internet. 

Novas abordagens de avaliação são imperativas

No Brasil, muitos professores e alunos não têm acesso confiável à internet e não são capazes de usar tecnologias emergentes, tornando o aprendizado online uma experiência difícil, se não frustrante, para muitos. Com o aprendizado online como a substituição de salas de aula físicas em meio à crise do COVID-19, muitos alunos ficaram vulneráveis a atrasos nos estudos ou enfrentam desafios adicionais devido ao seu status socioeconômico. Os alunos de famílias de baixo nível socioeconômico não podem pagar por conexão de banda larga e dispositivos pertinentes, como computadores/laptops ou tablets, para apoiar seu aprendizado online. Em vez disso, eles estão usando smartphones e celulares para acessar aulas e materiais de aprendizagem, concluir tarefas e fazer exames. No entanto, o aprendizado online durante esta pandemia global torna a avaliação mais complicada, pois precisa ser conduzida online. 

Novas abordagens de avaliação, portanto, são imperativas. Com a avaliação online, os professores têm controle limitado sobre o trabalho dos alunos, por isso é difícil para os professores controlar a trapaça e garantir que os alunos concluam as tarefas de avaliação sozinhos ou com a ajuda de pais ou responsáveis, que estão muitas vezes assoberbados em meio a atividades domésticas e do trabalho remoto.

Consequências negativas

Na maioria dos países, o contato com os professores era limitado, deixando os pais com a responsabilidade primária de administrar a educação domiciliar. Os pais e responsáveis também passaram níveis aumentados de estresse, preocupação, isolamento social e conflito doméstico. Os efeitos adversos da educação domiciliar provavelmente terão um impacto de longo prazo e contribuirão para o aumento das desigualdades. Dado que o fechamento de escolas pode ser menos eficaz do que outras intervenções, os formuladores de políticas educacionais precisam considerar cuidadosamente as consequências negativas da educação domiciliar durante ondas adicionais da pandemia COVID-19 e futuras pandemias.

Com relação à organização da educação domiciliar, as escolas tiveram muita dificuldade em se adaptar ao ensino remoto. Assim, podemos ter que nos preparar para efeitos negativos adicionais de longo prazo relacionados ao impacto geral da pandemia COVID-19 na sociedade como um todo. O aumento das diferenças no conhecimento dos alunos representará desafios para os professores em relação ao atendimento das necessidades individuais das crianças e adolescentes quando as escolas forem reabertas.

Confira abaixo a programação desta semana de lives da #MemóriaDaPandemia:

Quarta-feira (24/3), às 10h — "Políticas de Saúde e Vacinação no Brasil". Igor Sacramento conversa com Guilherme Werneck, médico e professor do Instituto de Medicina Social da Uerj.

Sexta-feira (16/3) às 10h — "Novas Cepas do SARS-COV-2 e a Pandemia no Brasil". Igor Sacramento conversa com Rômulo Neris, biofísico e doutorando em imunologia e inflamação pela UFRJ.

Leia mais sobre a série #MemóriaDaPandemia:

Como a história pode ajudar a entender a pandemia

Igor Sacramento

Igor Sacramento é doutor em Comunicação e Cultura pela UFRJ e pesquisador em Saúde Pública pela Fiocruz. Na UFRJ, é professor do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura e pesquisador do Núcleo de Estudos e Projetos em Comunicação. Na Fiocruz, além de editor científico da Revista de Comunicação, Informação e Inovação em Saúde, é professor do Programa de Pós-Graduação em Informação e Comunicação em Saúde e pesquisador do Laboratório de Pesquisa em Comunicação e Saúde. Na Memória, colabora com as lives "Memórias da Pandemia".