Artes plásticas, o gênero artístico mais decisivo na Semana de 22

31/05/2021


Francisco Alambert, professor de História da Arte e Cultura Contemporânea do Departamento de História da USP, autor de um livro sobre a Semana de 22 (Editora Scipione, 1994) e de outro encorpado sobre “As Bienais de São Paulo” (Boitempo, 2004), discorda da maioria dos estudiosos e pesquisadores do modernismo brasileiro. Na live da série "Semana de Arte de 1922: Passado, presente e futuro", transmitida na última quinta-feira, 27 de maio, pelo canal do Youtube da Memória da Eletricidade, assumiu com clareza que as artes plásticas foram, de fato, o gênero “mais decisivo na Semana de 22, o que mais representava, naquele momento, os sonhos e anseios dos jovens modernistas”.

De fato, as cem obras que permaneceram expostas no saguão do Teatro Municipal de São Paulo naquela semana de fevereiro de 1922 formavam um conjunto mais modernista, mais homogêneo, menos fragmentado do que, por exemplo, a música, que na Semana foi basicamente passadista. Isto é, o mais novo que foi apresentado eram as obras de Heitor Villa-Lobos, embebidas do dito impressionismo francês de Ravel e Debussy. No restante, divas plenamente românticas, como a pianista Guiomar Novaes, tocaram Chopin, o paradigma por excelência da música romântica da primeira metade do século XIX.

Mário de Andrade: "Os velhos morrerão!"

Anita Malfatti – que fora espicaçada, estraçalhada, pela crítica escrita por Monteiro Lobato em uma exposição de 1917 – dominou a Semana. Ela exibiu 20 telas, incluindo o célebre “O Homem Amarelo”. Os demais pintores, incluindo Emiliano Di Cavalcanti e Vicente do Rego Monteiro, empalideciam diante das 12 peças do escultor Victor Brecheret, “o ponto alto” da mostra, segundo Aracy Amaral, historiadora e crítica de arte, hoje com 90 anos e unanimemente considerada a maior autoridade neste domínio artístico.

Em sua conturbada palestra sobre as artes plásticas, que intitulou “A escrava que não era Isaura”, Mário de Andrade teve de praticamente berrar para ser ouvido em meio à balbúrdia das vaias e gritos. Destemido, ele gritava de volta: “Os velhos morrerão!”.

Segunda temporada

A live com o professor Alambert encerrou a primeira temporada da série "Semana de Arte de 1922: Passado, presente e futuro", organizada pela Memória da Eletricidade, que mapeou os principais personagens da Semana de 1922. Faremos uma pausa de duas semanas e, na quinta-feira, dia 17 de junho, inicia-se a segunda das três temporadas, que vai mapear, em dez lives semanais, as “Reinvenções Modernistas no século 20”. O primeiro convidado será, no dia 17 de junho, Jorge Coli, professor de História da Arte da Unicamp e autor de um dos livros mais importantes sobre Mário de Andrade e o modernismo: “Música Final”. Ele vai conversar de modo amplo sobre as reinvenções do modernismo a partir da morte de Mário, em 1945. E na quinta-feira seguinte, dia 24 de junho, Silviano Santiago, um dos mais instigantes escritores e críticos literários brasileiros da atualidade, vai conversar sobre a literatura e a poesia pós-Semana de 22.