Bastante ligados ao meio acadêmico, os historiadores estão cada vez menos restritos às salas de aula. Agora, também integram equipes multidisciplinares em ambientes corporativos, investigando e organizando a trajetória de empresas e construindo narrativas do campo da memória empresarial.
Historiador da Memória da Eletricidade, Paulo Brandi de Barros Cachapuz é responsável por resgatar e organizar a história de algumas das mais importantes empresas do setor elétrico brasileiro e já produziu publicações como "Eletrificação rural no Brasil" (2016) e "Chesf: 70 anos de história" (2018).
Por ocasião do Dia do Historiador, conversamos com Paulo Brandi sobre as percepções e desafios da profissão.
P: Qual é a importância do historiador para o mundo corporativo?
R: Na minha opinião, essa importância tende a crescer em razão do interesse cada vez maior das instituições e do público em geral pela história e pelas diferentes formas de resgate do passado. Empresas, associações e comunidades se mostram preocupadas com suas memórias e, frequentemente, historiadores são contratados para a produção de livros de história empresarial ou exposições comemorativas. No Brasil, há um elevado número de profissionais especializados atuando na construção da memória empresarial, tais como historiadores, museólogos, arquivistas e comunicólogos.
P: Qual o trabalho e os desafios da profissão?
R: O historiador deve operar com procedimentos científicos, fazer a crítica das fontes e buscar evidências diversificadas. Todo historiador que se preza alimenta esta crença: dominar a crítica do documento para assim poder montar o seu quadro do passado. Ele deve desconfiar das suas fontes e inquiri-las em busca da verdade, uma meta evidentemente inalcançável, mas que ainda assim permanece sendo o objetivo principal. O rigor metodológico de análise das fontes é um diferencial da profissão. Além da objetividade, o historiador deve interpretar os fatos e levar ao público um conhecimento crítico e reflexivo.
P: O que torna um fato histórico, e ao mesmo tempo, relevante para a história ou para uma instituição?
R: O historiador britânico Edward Carr, em sua obra “O que é História?” ilustrava essa questão com um exemplo bastante significativo. Atravessar um riacho poderá ser considerado um fato histórico? Dizia Carr que é o historiador quem decide por suas próprias razões que o fato de César atravessar aquele pequeno riacho, o Rubicão, é um fato da história, ao passo que a travessia do Rubicão por milhões de outras pessoas antes ou desde então não interessa a ninguém em absoluto.
P: Como as empresas podem usar a memória empresarial para reforçar e fortalecer a identidade e a marca de suas instituições?
R: É sabido que a memória empresarial pode aproximar a empresa de funcionários, colaboradores e parceiros, bem como fortalecer a marca e a identidade da empresa no mercado. Além disso, a memória empresarial é uma grande ferramenta para as estratégias de comunicação, branding e narrativas de marca.