'A preservação digital é uma questão ainda não resolvida pela maioria dos repositórios institucionais'
A preservação digital é uma questão não resolvida para muitas instituições e ainda observa-se a ausência de políticas de garantia de acesso a longo prazo, assim como a falta de aplicação de estratégias ou resultados. A análise é de Miguel Arellano, antropólogo pelo Instituto Nacional de Antropologia e História (México) e doutor em Ciências da Informação pela Universidade de Brasília. Desde 1997, ele trabalha como tecnologista do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT), onde coordena a Rede Brasileira de Preservação Digital Serviços Cariniana. Em 2019, Miguel foi um dos palestrantes do Encontro Internacional de Preservação e Memória - Preserva.ME, evento promovido pela Memória da Eletricidade.
Sua palestra "A Rede Cariniana do IBICT: uma experiência de parcerias na preservação digital distribuída no Brasil" debateu as características e riscos de repositórios digitais, assim como a preservação de registros de atividades técnico-científicas. Antes do evento, conversamos com ele sobre o tema. Confira a entrevista:
P: Em seu painel no Preserva.ME 2019, você aborda os riscos e as características de repositórios digitais para preservação dos registros institucionais. Qual a importância da preservação dessas informações?
R: Os registros institucionais foram integrados aos repositórios digitais, nos quais a possibilidade de ocorrência de risco existe. A confiabilidade de acesso e arquivamento desses ambientes deve ser o resultado da avaliação e diagnóstico dos responsáveis por esses acervos. Para garantir que essa informação esteja preservada e acessível às instituições, é preciso realizar um rigoroso controle de fatores de risco. Especialistas da Ciência da Informação apontam para a necessidade de defesa da informação digital contra ameaças e vulnerabilidades inerentes ao processo decisório. Daí a importância de um plano de contingenciamento que descreva as políticas e procedimentos desenvolvidos para prevenir, preparar, responder e recuperar os repositórios digitais de um possível desastre. As instituições devem partir de um planejamento de gestão de coleções digitais em todo o seu ciclo de vida, envolvendo a aquisição, verificação, registro, preservação e acesso, como procedimentos que não podem ser vistos isoladamente. Como um serviço especializado, os repositórios digitais organizam e guardam arquivos por longos períodos, sendo considerados realmente confiáveis quando têm em sua missão o acesso permanente de longo prazo.
Assista
A palestra "A Rede Cariniana do IBICT: uma experiência de parcerias na preservação digital distribuída no Brasil", apresentada por Miguel Arellano no Preserva.ME 2019.
P: Quais são os principais obstáculos encontrados para a implementação de sistemas de preservação digital?
R: A preservação digital é uma questão ainda não totalmente resolvida pela maioria dos repositórios institucionais. A prática é complexa e, embora as instituições os estabelecessem para capturar e manter coleções digitais, os métodos e sistemas de preservação digital não foram mencionados de forma adequada, deixando a impressão de que o acesso às suas coleções pode levar a uma perda total de informações. Observa-se uma ausência de políticas de garantia de acesso a longo prazo, sem nenhuma aplicação de estratégias ou resultados obtidos. O estabelecimento de diretrizes sólidas para a criação de planos e políticas é o principal entrave para a implementação de sistemas ou programas de preservação digital no Brasil.
P: Cada vez mais, discute-se o valor dos registros das atividades técnico-científicas. Como você enxerga essa questão?
R: Os repositórios institucionais enfrentam o desafio de abrigar, preservar e dar acesso aos registros das atividades técnico-científicas. Os repositórios de dados de pesquisa estão sendo implementados no mundo como uma nova opção para o acesso livre. Os benefícios ainda estão em experimentação, e os bibliotecários, pesquisadores, instituições de financiamento e de ensino começam a conhecer seus benefícios. Entre esses benefícios está a visibilidade dos projetos e o fato de que os trabalhos de pesquisa adquiram uma nova possibilidade de gestão se articulados a sistemas de informação. A transparência nos investimentos nacionais para a Ciência também permite novas formas de governabilidade, relacionada com o registro de processos de gestão e disseminação. Espera-se que os indicadores resultantes dessas atividades permitam uma gestão mais equânime, atendendo às dimensões do país, mas também às condições estratégicas em que a pesquisa torna-se fundamental à preservação de seus recursos naturais e à elaboração de politicas públicas.