Memória da Eletricidade – Passado, presente e futuro

02/10/2020

Equipe da Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE) em área rural do município de Ibirubá (RS), 1960. A foto faz parte do livro "Eletrificação Rural no Brasil – Uma Visão Histórica". Crédito: CEEE

Segundo a Wikipédia memória é a capacidade de adquirir, armazenar e recuperar (evocar) informações disponíveis, seja internamente, no cérebro (memória biológica), seja externamente, em dispositivos artificiais (memória artificial). Também é o armazenamento de informações e fatos obtidos através de experiências ouvidas ou vividas. Focaliza coisas específicas, requer grande quantidade de energia mental e deteriora-se com a idade. É um processo que conecta pedaços de memória e conhecimentos a fim de gerar novas ideias, ajudando a tomar decisões diárias.

A ideia, portanto, de criar, em 1986, uma entidade sem fins lucrativos denominada Centro da Memória da Eletricidade no Brasil, pelos principais agentes do setor de energia elétrica brasileiro, liderados pelo Grupo Eletrobras, foi uma iniciativa louvável e importante para compilar as informações e fatos relevantes do setor elétrico do Brasil.

Um retrospecto da história da eletricidade no Brasil nos remete a 1879 quando Dom Pedro II concedeu a Thomas Edison o privilégio de introduzir no país aparelhos e processos de sua invenção destinados ao uso da eletricidade na iluminação pública, resultando na inauguração da Estação Central da Estrada de Ferro Dom Pedro II, atual Central do Brasil, a primeira instalação de iluminação pública permanente.

Processo que conecta pedaços de memória e conhecimento

Transcorridos quase 150 anos, foram inúmeros os marcos e os avanços da energia elétrica no território brasileiro, fruto do trabalho e dedicação de muitas gerações. Muitos fatos relevantes, acontecimentos marcantes e experiências vividas que possibilitaram a existência, hoje, de um Sistema Interligado Nacional, robusto, seguro e confiável.

A Memória da Eletricidade, ao longo de seus 34 anos de existência, tem exercido um papel importante promovendo a disseminação de conhecimentos, técnicas e tecnologias correlatos à geração, transmissão e comercialização de energia elétrica. Tem a missão de pesquisar e preservar a história e prospectar os desafios atuais e as tendências futuras da energia elétrica no Brasil, segundo seus diferentes usos, fontes e tecnologias, contribuindo para a compreensão do presente e das perspectivas da indústria de eletricidade no país.

A história das grandes obras e dos fatos marcantes do setor elétrico são relatos vivos nas obras produzidas pela Memória da Eletricidade. É um processo que conecta pedaços de memória e conhecimentos que proporcionarão às gerações futuras desvendar a trajetória dos pioneiros e de todos aqueles que viveram a construção das grandes usinas, das interligações, das soluções criativas e as inovações tecnológicas que nos orgulham de poder contar com um sistema eletroenergético que integra todas as regiões de nosso Brasil. 

A Memória da Eletricidade se faz com pessoas para pessoas, a partir de uma coleta de informações e conhecimentos cuidadosa, identificando fatos e narrações que complementam o que já existe na literatura disponível. Segundo Peter Drucker, o pai da Administração Moderna, “o conhecimento e a informação são recursos estratégicos para o desenvolvimento de qualquer país. Os portadores desses recursos são as pessoas”.

'O mais importante na comunicação é ouvir o que não foi dito'

A publicação de uma obra requer paciência, muita pesquisa e saber ouvir no sentido mais amplo desde os especialistas até os membros de uma comunidade para entender melhor a dimensão de um projeto, de uma iniciativa que culminou com os benefícios para a sociedade. “O sonho da minha vida era voltar para casa depois de um dia duro no roçado e beber um copo de água gelada. Ela tem outro sabor.” A afirmação é um relato simples da senhora Elaís Barbosa, no livro "Eletrificação Rural no Brasil – Uma Visão Histórica", publicado pela Memória da Eletricidade.

A riqueza de uma obra está nos detalhes, na forma de descrever um acontecimento, de contar a história de um grande projeto com todas as suas nuances, numa perspectiva ampla e com dados coerentes e consistentes, até mesmo no caso de situações desvendadas a partir de uma pesquisa na qual as pessoas sentem prazer em compartilhar suas experiências e conhecimentos. Na visão de Peter Drucker, “o mais importante na comunicação é ouvir o que não foi dito”. Esse papel, a Memória da Eletricidade o faz com maestria e competência.

A continuidade da Memória da Eletricidade é um grande desafio, pois depende de sua reinvenção, de seu alinhamento ao cenário atual de muitas transformações, em especial com o advento da indústria 4.0 e do pensamento exponencial, com o ritmo do progresso tecnológico nos surpreendendo a cada dia. O momento requer, portanto, um novo modelo de negócio, uma nova forma de atender às expectativas dos clientes com mais agilidade e com o mesmo padrão de qualidade.

A inovação e a criatividade serão fatores críticos de sucesso em qualquer organização que queira sobreviver no século atual, em que as tecnologias que surgem a cada instante, requerem novas formas de fazer acontecer, de garantir a operação plena de seus ativos, com um controle do risco e das não conformidades dentro de padrões aceitáveis, evitando perdas financeiras e assegurando um atendimento contínuo, seguro e confiável aos consumidores.

A Memória da Eletricidade, alinhada aos novos tempos, busca também a inovação e a criatividade para assegurar que seu legado seja preservado e até mesmo ampliado para o conhecimento dos profissionais da geração atual, conhecidos por nativos digitais e que serão os gestores do amanhã. O novo website tem essa missão de renovação, de adaptação à era digital, de facilitar a pesquisa e o compartilhamento das informações tão importantes contidas em seu acervo técnico. É a consolidação da ponte que se iniciou em 1986, mantendo-se sustentável até agora e com adição de novos pilares para manter vivo o conhecimento para o futuro.

"Um povo sem memória é um povo sem história. E um povo sem história está fadado a cometer, no presente e no futuro, os mesmos erros do passado."
(Emilia Viotti da Costa, Historiadora, autora de "Da senzala à colônia")