Fundo John Reginald Cotrim

acervo integralmente digitalizado e disponível no site da Memória
26/09/2025

Engenheiro e gestor do setor elétrico brasileiro, John Reginald Cotrim deixou um legado fundamental para a expansão da energia no país. Seu fundo pessoal, hoje sob a guarda da Memória da Eletricidade, reúne mais de meio século de atuação em projetos como a fundação da Cemig, a criação de Furnas e a construção de Itaipu.

O acervo foi doado em três momentos: a primeira leva pelo próprio Cotrim, seguido por Antônio Carlos Salmito e por Heitor Mendes Gonçalves, e abrange documentos produzidos e acumulados entre 1945 e 1997. São 11,8 metros lineares de documentação, compostos por 4.365 documentos textuais (mais de 80 mil páginas), além de 1.108 itens iconográficos, como fotografias, negativos, diapositivos, selos e desenhos. Também conta com um item tridimensional: o fraque utilizado pelo titular.

A assinatura do convênio com a Finep possibilitou um avanço significativo na difusão do acervo: 531 fotografias receberam descrições detalhadas e foram incorporadas ao sistema, ficando disponíveis ao público. Essa iniciativa reforça o compromisso da instituição com a preservação e o acesso à memória documental.

Organização Arquivística

O trabalho de organização seguiu os princípios da Norma Brasileira de Descrição Arquivística (Nobrade), elaborada pelo Conselho Nacional de Arquivos (Conarq). Essa metodologia orientou a descrição, identificação e recuperação das informações, estruturando o fundo em 12 séries temáticas que refletem as principais áreas de atuação de Cotrim.

Entre elas, destaca-se a série voltada a sua atuação na Itaipu Binacional, a mais volumosa do fundo. Ela documenta a complexidade de um dos maiores empreendimentos do setor elétrico, incluindo questões jurídicas e institucionais (Tratado de Itaipu, modificações estatutárias e negociações diplomáticas entre Brasil, Paraguai e Argentina); construção e engenharia (dossiês sobre as etapas da obra, relatórios técnicos, manuais e instruções de inspeção), e registros sobre operação da usina, estudos hidrológicos e ambientais, além de questões políticas e internacionais.

Acesso Digital

Todo o fundo foi integralmente digitalizado e está disponível para consulta no site da Memória da Eletricidade. O acesso é feito por duas modalidades complementares: uma dedicada à descrição arquivística, que permite navegar pelas séries, dossiês e documentos textuais e iconográficos, e outra que possibilita a pesquisa por palavras em todas as mais de 80 mil páginas digitalizadas, por meio do DocReader, que utiliza tecnologia de OCR.

Sem restrições de acesso, o acervo oferece informações detalhadas para pesquisadores, instituições e interessados na história do setor elétrico e na trajetória de Cotrim, que em 2025 completaria 110 anos.

Trajetória de John Reginald Cotrim

Nascido em Manchester, Inglaterra, em 1915, Cotrim tornou-se brasileiro nato com base na Constituição de 1891. Formou-se engenheiro civil em 1936 e iniciou a carreira ainda estudante, como calculista de concreto armado.

Em 1937 ingressou na Companhia Auxiliar de Empresas Elétricas Brasileiras, do grupo norte-americano Amforp, e em 1942 estagiou nos Estados Unidos, na Electric Bond & Share Corporation (Ebasco), onde se especializou em coordenação e operação de sistemas interligados.

De volta ao Brasil em 1944, colaborou com o Plano Nacional de Eletrificação e, a partir de 1948, participou de iniciativas estratégicas, como o Plano de Eletrificação de Minas Gerais e a atuação na Comissão do Vale do São Francisco.

Em 1951 foi um dos fundadores da Cemig, onde exerceu os cargos de vice-presidente e diretor técnico. Em 1957 tornou-se o primeiro presidente da Central Elétrica de Furnas S.A., liderando a construção de importantes usinas (Furnas, Estreito, Marimbondo, Itumbiara, Porto Colômbia) e o início da implantação de Angra I e de uma vasta rede de transmissão.

A partir de 1974 assumiu a diretoria técnica da Itaipu Binacional, acompanhando a execução das obras, a estrutura operacional e participando das negociações tripartites com Brasil, Paraguai e Argentina. Permaneceu vinculado à empresa até 1985, quando passou a atuar como consultor e integrar conselhos e grupos de trabalho do setor, como a Revisão Institucional do Setor Elétrico (Revise).

Valor Histórico

O fundo John Reginald Cotrim é um testemunho singular da trajetória de um engenheiro que esteve à frente de alguns dos maiores projetos de infraestrutura do Brasil. Ao disponibilizar esse acervo de forma integral e digital, a Memória da Eletricidade reforça sua missão de preservar e difundir a memória do setor elétrico, garantindo acesso amplo e democrático a um patrimônio de valor inestimável.