Memória da Eletricidade lança livro de arte com aquarelas de Mario Bhering
Como parte das celebrações do centenário do engenheiro Mario Penna Bhering, a Memória da Eletricidade está lançando nesta quarta-feira, 30 de novembro, um livro de arte em alto padrão gráfico. Com 120 páginas, “100 anos de Mario Bhering” reúne mais de 40 reproduções das principais pinturas do engenheiro e artista, entremeadas por memórias de Bhering sobre assuntos variados, além de comentários acerca de energia elétrica e arte. A obra tem edição do jornalista Alexandre Falcão, consultor de publicações da Memória da Eletricidade, e curadoria e textos de análise dos quadros do crítico Márcio Sampaio, um dos maiores especialistas na obra de Mario Bhering. É de Sampaio a seleção das aquarelas mais representativas, que retratam especialmente a vida cotidiana e as marinas. A partir do trabalho de Alexandre Falcão e Márcio Sampaio, a Memória da Eletricidade também está lançando uma exposição virtual que expõe mais de 40 obras do engenheiro e artista.
Alexandre Falcão explica que o projeto nasceu da ideia de mostrar o lado humanista de Mario Bhering.
— Muito já se falou sobre o gestor, o engenheiro e até o pintor Mario Bhering. Mas a literatura sobre esse grande personagem do setor elétrico brasileiro ainda não havia tratado do seu humanismo de forma mais profunda pela importância da arte no seu pensamento criativo — conta Alexandre Falcão. — Fizemos um livro que reúne mais de 40 aquarelas sob a curadoria do Márcio Sampaio, que elaborou textos contemplativos e de admiração de obras de Mario Bhering, em uma perspectiva repleta de lirismo e intimidade. Márcio é um dos maiores especialistas na pintura de Mario Bhering. Um professor, crítico de arte e pintor que se despiu da técnica para revelar as inspirações e os sentidos do artista mineiro.
Carpintaria seletiva que durou um ano
O projeto para a preparação e edição de "100 anos de Mario Bhering" consumiu um ano de trabalho de uma equipe formanda por especialistas, amigos e familiares do engenheiro. E metade desse tempo foi dedicada à pesquisa.
— Fizemos uma carpintaria bastante seletiva das relevâncias artísticas de Mario Bhering e das aquarelas que significam pontos marcantes das suas observações afetivas, intelectuais e existenciais. A equipe foi formada por mim, como editor, pelo Márcio Sampaio, como curador e redator, pelo José Luiz Alquéres, detentor do maior acervo das pinturas do Mario Bhering e o maior discípulo do mestre, que nos proporcionou uma refinada consultoria, com apoio direto das filhas Alida, Cecília e Letícia, e as netas, Bárbara e Sofia, de Bhering - enumera Alexandre Falcão. - A designer Mary Paz Guillen transformou tudo em beleza gráfica. O trabalho foi desenvolvido sob a coordenação atenta da Cláudia Trigueiro, diretora executiva interina da Memória da Eletricidade.
Márcio Sampaio, que conheceu a obra artística de Mario Bhering no começo da década de 1970, destaca a paixão pela natureza e o caráter realista presentes em boa parte dos quadros do engenheiro:
— Inicialmente autodidata, Mario teve oportunidade de receber lições de um grande mestre americano e de conhecer obras de alguns dos maiores aquarelistas estrangeiros e brasileiros, aprimorando pelos estudos e observação, a sua própria maneira de desenhar e pintar. Um apaixonado pela natureza, e conhecendo intimamente as especificidades da pescaria e seus cenários, Mario procurou absorver e retratar as emoções e os prazeres da pesca, associados aos lugares e experiências das aventuras que viveu. Também as vivências familiares como contrapeso para as intensas atividades profissionais, levaram-no a dirigir suas criações artísticas para uma forma de expressão mais realista. Sem descartar o sentido poético, foi reproduzindo os cenários, as atividades, as pessoas, seus lugares de intimidade com a família, recompondo em imagens leves e luminosas os lances da vida cotidiana.
Mario Bhering, um humanista
Mario Bhering, além de uma das figuras mais importantes para a história do setor de energia do país e fundador da Memória da Eletricidade, era um humanista, apreciador das artes. Para Alexandre Falcão, o homenageado era uma "aquarela viva":
— Com cada cor representando uma dimensão das belezas de sua alma irrequieta. Fazia arte pensando e elaborando caminhos para entender o mundo macro e micro. Longe de ser apenas um passatempo para as folgas do engenheiro, a pintura era parte de sua verdade como um filósofo curioso pelo conhecimento múltiplo sem perder a esperança e o otimismo. Seu humanismo foi o maior tema de sua arte.
O curador Márcio Sampaio conta que procurou ter uma leitura especial das obras de Bhering durante o processo de seleção para o livro e a exposição virtual:
— Foram feitas pesquisas e seleção de obras acessíveis, do acervo familiar, da Fundação Memória da Eletricidade e de outras instituições, bem como de coleções particulares. Estudando o conjunto com cerca de 150 imagens, fizemos uma seleção de mais de 40 para o livro, e 59 para a publicação virtual — explica Sampaio. — Foi muito prazeroso revisitar a obra de Mario, e criar uma leitura especial, que conduzirá o espectador a um passeio pelos temas, situações e lugares, mostrar os amplos espaços marítimos e o espaço intimista de sua casa, com as imagens da família, realizadas ao longo de muitos anos. Observamos o esmero e o virtuosismo com que, dominando os recursos técnicos e senhor de sua linguagem, foi criando situações e cenários surpreendentes. Cada aquarela mostra como ele tinha um senso agudo de observação, não deixando de assinalar, até com um certo humor, pequenos detalhes que normalmente nos escapam e que ele nos revela criando uma dimensão do mundo.
Neste universo pictórico, o grande protagonista é o mar.
— O mar que ele tanto amou e por amá-lo assim criou suas melhores aquarelas — define Márcio Sampaio. — Desse primeiro conjunto fomos destacando as obras que tornam mais evidentes sua maestria em criar com liberdade e leveza, as difíceis nuances dos temas, como a água, os reflexos e as transparências, fixando as passagens do tempo com a luminosidade de cada hora. As praias, suas personagens típicas, as situações singulares, o bom e o mau tempo, as paisagens físicas e humanas, a praça, a arquitetura, a vida urbana. Mas não poderíamos deixar de colocar na sequência, suas aquarelas sobre as usinas, como admirável documento, sem que deixassem de ter as qualidades do aquarelista, o artista criador. Ao fim, temos nesses conjuntos temáticos, uma bela demonstração da capacidade do observador da vida, que torno visível, por sua sensibilidade, momentos pontuais deste mundo que vivemos.
O projeto "100 anos de Mario Bhering" tem patrocínio de Itaipu Binacional e Norte Energia/Usina Hidrelétrica de Belo Monte e apoio de Energisa e Eletrobras Furnas.