Acervo

Eletrobras Eletronorte

20/06/1973
verbete atualizado em: 02/07/2025

Informações gerais

Nome de referência
Centrais Elétricas do Norte do Brasil, Fundação Nacional do Índio
Tipo de organização
Empresa de geração e transmissão de energia elétrica
Data
20/06/1973

Conteúdo

Verbete

A Centrais Elétricas do Norte do Brasil S.A. (Eletronorte) foi constituída em 20 de junho de 1973 pelo governo federal com a missão de promover o desenvolvimento dos sistemas elétricos na Amazônia, integrando-se ao quadro das subsidiárias regionais da Eletrobras, ao lado da Chesf, Furnas e Eletrosul. A criação da Eletronorte foi recomendada pelo Comitê Coordenador de Estudos Energéticos da Amazônia (Eneram), organismo do Ministério das Minas e Energia, responsável pela supervisão de pioneiro levantamento do potencial hidrelétrico da região Norte entre 1969 e 1972. Os estudos do Eneram foram realizados durante o período do chamado “milagre” econômico brasileiro em meio a uma renovada preocupação do governo com a significação geopolítica da Amazônia, em face da descoberta de sua extraordinária riqueza mineral, especialmente em jazidas de ferro e bauxita. Em 14 de novembro de 1972, conforme proposição do ministro Antonio Dias Leite, o presidente Emílio Médici sancionou a Lei nº 5.824, garantindo recursos para a subscrição de capital da empresa.

A empresa foi constituída em 20 de junho de 1973 sob a presidência do coronel e engenheiro Raul Garcia Llano Autorizada a funcionar como concessionária de energia elétrica em 30 de julho pelo Decreto nº 72.548, a Eletronorte foi instalada no Rio de Janeiro, transferindo-se para Brasília dois anos depois.

Inicialmente, a área de atuação da Eletronorte compreendeu os estados do Amazonas, Pará, Acre, Mato Grosso (ao norte do paralelo 18º sul) e Goiás (ao norte do paralelo 15º sul) e os territórios do Amapá, Roraima e Rondônia que, à época, ainda não haviam passado à condição de estados. Essa área seria ampliada em março de 1980 com a inclusão do Maranhão e também de todo o estado do Mato Grosso, em consequência do desmembramento do Mato Grosso do Sul.

Nos primeiros anos, a empresa elaborou estudos energéticos no Pará e Amazonas, instalou pequenas centrais térmicas em Rio Branco e Porto Velho, e assumiu obras já iniciadas, como a Usina Hidrelétrica de Coaracy Nunes, no Amapá, inaugurada em 1976 como a primeira hidrelétrica da Amazônia. Posteriormente, lançou um dos seus empreendimentos mais emblemáticos: a Usina de Tucuruí, no Pará, que começou a operar em 1984, tornando-se a segunda maior hidrelétrica do Brasil totalmente nacional, com capacidade final de 8.370 MW após a segunda etapa concluída em 2007.

Em 1989, o parque gerador hidrelétrico da Eletronorte passou a contar com mais duas usinas: Balbina e Samuel, situadas nos rios Uatumã e Jamari, nos estados do Amazonas e Rondônia, respetivamente, destinadas ao suprimento das capitais Manaus e Porto Velho. Balbina, embora relevante para o abastecimento energético da capital amazonense, tornou-se símbolo de polêmica ambiental devido à extensa área alagada, enquanto Samuel destacou-se como o primeiro projeto a seguir as normas do licenciamento ambiental estabelecidas pelo Conama.

A Eletronorte dividiu com Furnas a responsabilidade pela construção do sistema de transmissão Norte-Sul que conectou os sistemas interligados Norte-Nordeste e Sul-Sudeste, mediante a implantação de 1.270 km de linhas de 500 kV entre as subestações de Imperatriz (MA) e Samambaia (DF). A entrada em operação da interligação Norte-Sul em 1998 propiciou a constituição do chamado Sistema Interligado Nacional. No ano seguinte, a companhia colocou em operação o chamado sistema de transmissão Tramoeste em 230 kV, construído no Pará para levar energia de Tucuruí a localidades do oeste do estado, como Altamira e Santarém. A Eletronorte também foi responsável pela contratação de energia da Venezuela para Roraima e pela implantação da linha de 230 kV entre Boa Vista e a cidade de Santa Elena de Uiarén, integrante da Interligação Brasil-Venezuela

A partir dos anos 2000, a Eletronorte fortaleceu sua atuação como investidora em consórcios e Sociedades de Propósito Específico, participando dos empreendimentos hidrelétricos de Dardanelos, no rio Aripuanã (MT), Sinop, no rio Teles Pires (MT), e Belo Monte, no rio Xingu (PA). Quarta maior hidrelétrica do mundo, Belo Monte entrou em operação em 2016, atingindo três anos depois a capacidade instalada final e 11.233 MW. A empresa também integrou os consórcios responsáveis pela implantação das linhas e subestações da Interligação Tucuruí-Manaus-Macapá e do sistema de transmissão em corrente contínua Porto Velho-Araraquara para escoamento de energia do complexo de usinas do rio Madeira. Além disso, incorporou ao seu portfólio termelétricas importantes, como Mauá 3 e Aparecida, no Amazonas, e passou gerenciar ativos herdados da Amazonas GT, como a Usina de Balbina. A usina Curuá-Una, no Pará, foi igualmente incorporada ao parque gerador da empresa.

A trajetória da Eletronorte foi marcada por um intenso envolvimento em programas socioambientais. A construção de grandes hidrelétricas trouxe desafios relacionados à realocação de populações, proteção ambiental e respeito aos direitos indígenas, exigindo articulação com órgãos como Funai e Incra. Destaca-se a criação de Centros de Proteção Ambiental nas usinas e a assinatura de compromissos de apoio a comunidades afetadas, como os Waimiri-Atroari e Parakanã, reforçando a responsabilidade social da empresa.

Em 2017, a Eletrobras iniciou a venda de sua participação em mais de 100 Sociedades de Propósito Específico em que a companhia era sócia por meio da Eletronorte, Chesf, Furnas e Eletrosul. O plano de desinvestimento da Eletrobras acarretou a venda da participação da Eletronorte em diversos empreendimentos de transmissão, como a linha de corrente contínua Porto Velho-Araraquara do sistema escoamento de energia do complexo de usinas do rio Madeira e a linha Oriximiná-Itacoatiara-Cariri, integrante da interligação Tucuruí-Manaus-Amapá.

A privatização da Eletrobras, aventada desde 1995, foi afinal autorizada pelo Congresso Nacional e aprovada pela Lei 14.182, sancionada pelo presidente Jair Bolsonaro em 12 de julho de 2021. Em junho do ano seguinte, a Eletronorte foi desestatizada em decorrência da privatização da Eletrobras, mediante oferta pública de ações para agentes privados que diluiu a participação da União na companhia. A Eletronorte permanece como empresa controlada pela Eletrobras, ocupando a quarta posição entre os maiores agentes em capacidade geradora do Brasil, segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

Ao longo de cinco décadas, a Eletrobras Eletronorte não somente contribuiu para a expansão energética da Amazônia, mas também desempenhou um papel relevante no desenvolvimento regional, apoiando concessões estaduais, construindo estradas, hospitais e escolas, e integrando a Amazônia ao restante do país em um movimento de ocupação e modernização que marcou profundamente a história da região.

Atualmente, a região Norte conta com mais de 35 mil MW de capacidade instalada, representando 18% do total nacional, um salto gigantesco em comparação aos 191 MW disponíveis em 1970, quando o parque gerador era composto exclusivamente por pequenas usinas térmicas a diesel e óleo combustível. A empresa continua sendo uma peça-chave na matriz energética brasileira, gerenciando mais de 10 mil km de linhas de transmissão, 53 subestações e um parque gerador que combina hidrelétricas e térmicas, assegurando o fornecimento de energia em um dos territórios mais desafiadores e estratégicos do país.

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