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Eletronuclear é uma empresa geradora de energia elétrica controlada pela Empresa Brasileira de Participações em Energia Nuclear e Binacional (ENBPar), vinculada ao Ministério de Minas e Energia (MME). Constituída como subsidiária da Eletrobras em 1997, passou ao controle da ENBPar em 2022 em decorrência da privatização da Eletrobras. Foi desmembrada da antiga holding devido ao fato de a legislação brasileira estabelecer o monopólio da União sobre a geração nuclear de energia.
A empresa opera no estado do Rio de Janeiro, com sede na capital e instalações industriais em Angra dos Reis e Paraty. Controla a Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto (CNAAA), composta pelas usinas Angra 1 e Angra 2, além da usina Angra 3 em processo de construção. O nome da central homenageia o almirante Álvaro Alberto da Motta e Silva, pioneiro pesquisador do campo da tecnologia nuclear no Brasil e um dos principais incentivadores da criação da Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen) em 1956.
A Eletronuclear foi criada como resultado da cisão do segmento nuclear de Furnas Centrais Elétricas e sua transferência para a Nuclebrás Engenharia e Serviços (Nuclen), por iniciativa do governo Fernando Henrique Cardoso relacionada com a reforma do setor elétrico. Constituída em 1º de agosto de 1997, sob a razão social Eletrobras Termonuclear S. A., a empresa assumiu a responsabilidade pela construção e operação de usinas nucleares no país, bem como pela comercialização de energia produzida. Com 1.900 funcionários egressos de Furnas e da Nuclen, a Eletronuclear foi presidida inicialmente pelo engenheiro Ronaldo Artur Cruz Fabrício.
Até então, o programa de geração nuclear brasileiro estava sob a responsabilidade de Furnas, contando ainda com a participação da Nuclen e outras empresas criadas no âmbito do Acordo Nuclear Brasil- Alemanha, celebrado em 1975.
Angra 1 foi construída por Furnas com tecnologia da empresa norte-americana Westinghouse, adquirida em sistema turn key (sem transferência tecnológica). As obras da usina tiveram início em 1972. Sua localização na praia de Itaorna, em Angra dos Reis, levou em conta critérios relacionados à hidrologia, meteorologia, geologia, topografia e demografia, considerando ainda a proximidade com os principais centros consumidores de energia elétrica do país (Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte). As dificuldades e desafios enfrentados em um contexto de pioneirismo serviram como um laboratório de aprendizagem, com o envio de engenheiros para treinamento nos Estados Unidos, Canadá e Europa. Com capacidade geradora de 640 megawatts (MW), Angra 1 entrou em operação comercial em 1985.
As obras de Angra 2 foram iniciadas em 1977, surgindo imprevistos que atrasaram de forma irrecuperável o cronograma inicial. O reator e outros equipamentos da usina foram adquiridos da empresa alemã Kraftwerk Union (KWU), subsidiária da Siemens, no âmbito do acordo nuclear com a Alemanha.
A Eletronuclear assumiu de imediato o controle de Angra 1 e deu continuidade à montagem eletromecânica de Angra 2. A usina começou a gerar energia em julho de 2000, quando seu reator foi sincronizado à rede de transmissão de Furnas. Melhorias tecnológicas introduzidas em vários sistemas e componentes permitiram elevar sua potência nominal para 1.350 MW, equivalente a mais de duas vezes a potência do reator de Angra 1.
Angra 1 e Angra 2 vêm operando com padrões de desempenho compatíveis com a prática internacional. Angra 1 passou por modernizações, incluindo a substituição dos geradores de vapor em 2009. A substituição foi preparada com mais de cinco anos de antecedência, sendo necessária a assinatura de contratos com a companhia francesa Areva NP, a brasileira Nuclebrás Equipamentos Pesados (Nuclep), a espanhola Iberdrola e a Odebrecht, além da Westinghouse, responsável pelos os estudos de engenharia para a fabricação de componentes de suporte para o processo de substituição. A complexa ação de retirada dos geradores representou um grande desafio se considerarmos que os geradores são rejeitos de grande porte, variando de baixa a média radioatividade e considerando que cada gerador tem vinte metros de altura por quatro metros de diâmetro, pesando cerca de trezentos e cinqüenta toneladas. Com a substituição dos geradores de vapor, a usina passou a ter condições de operar com toda sua capacidade.
A construção de Angra 3 foi retomada em 2010, mais de vinte anos depois de interrompida a obra, após estudos de reavaliação da viabilidade e apreciação dos contratos existentes, determinados pelo Conselho Nacional de Políticas Energética (CNPE). Para fornecimento dos equipamentos de instrumentação e controle, foi definida a fabricante francesa Areva NP, empresa resultante da fusão entre a Siemens KWU e a francesa Framatome. Os recursos para consecução do empreendimento foram garantidos principalmente pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e pela Caixa Econômica Federal (CEF).
As obras de Angra 3 foram novamente interrompidas em 2015, com cerca de 65% da usina construída. A empresa concentrou-se na manutenção da infraestrutura, prevenção de deterioração de equipamentos e planejamento para retomada. Em paralelo, fortaleceu os programas de monitoramento ambiental e de atualização tecnológica para prolongar a vida útil de Angra 1.
Em 2021, a Eletronuclear inaugurou a Unidade de Armazenamento Complementar a Seco de Combustível Irradiado (UAS). Localizada entre as usinas Angra 2 e 3, a estrutura foi projetada para garantir máxima segurança no armazenamento dos elementos combustíveis após o processo de resfriamento nas piscinas especiais das usinas. Esses combustíveis usados não são considerados rejeitos radioativos ou lixo nuclear, pois ainda contêm grande potencial energético, que pode ser reaproveitado por meio do processo de reprocessamento.
Como parte do processo de privatização da Eletrobras, em 2022 houve o desmembramento da holding de suas atividades relacionadas à energia nuclear. O controle acionário da Eletronuclear passou para a ENBPar. A Eletrobras deixou de ser controladora da estatal nuclear, mas permaneceu como sócia minoritária, detendo 35,9% das ações ordinárias e 67,9% do capital total.
Em 2024, Angra 2 alcançou um marco histórico, registrando 99,4% de disponibilidade operacional, o segundo melhor índice desde sua inauguração, reforçando seu papel essencial na oferta de energia de base ao Sistema Interligado Nacional (SIN).
Em fevereiro de 2025, a Eletrobras e a União firmaram acordo que redefiniu as obrigações da Eletrobras em relação à Eletronuclear. A Eletrobras foi desobrigada de aportar recursos para a conclusão de Angra 3, comprometendo-se por outro lado, a apoiar o projeto de extensão da vida útil de Angra 1. O acordo entre a Eletrobras e a União demandou dois anos de negociação, viabilizando o fim da ação judicial da União que questionava a vedação aos acionistas da companhia de exercerem seus votos em número superior a 10% da quantidade de ações do capital votante da empresa.
O BNDES deverá realizar um novo estudo técnico, econômico e jurídico para reavaliar a viabilidade do projeto de Angra 3. Com potência de 1.405 MW, a usina faz parte dos planos de expansão do parque gerador nuclear no Brasil e do Plano Nacional de Energia 2050.
Atualmente, a Eletronuclear conta com uma capacidade geradora de 1.990 MW.