'Agora estamos guardando informação e não mais somente objetos'

Entrevista com Millard Schisler

Postado em 29/08/2019
Rayssa Dias

Jornalista pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), possui cursos e experiência profissional em comunicação empresarial, nos segmentos de produção de conteúdo e assessoria de imprensa. Na Memória da Eletricidade é responsável por intermediar o relacionamento da instituição com a mídia, cobrir eventos, planejar e desenvolver conteúdos.

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Millard Schisler é mestre em Artes Visuais pelo Visual Studies Workshop (EUA) e professor de conservação de coleções fotográficas no mestrado em Museologia da Johns Hopkins University. Em 2019, Millard foi um dos palestrantes do Encontro Internacional de Preservação e Memória - Preserva.ME, evento promovido pela Memória da Eletricidade.

Sua palestra, "Photo Finished: a preservação, ou não, de fotografias digitais", debateu as diferenças entre a preservação de fotografias digitais e analógicas. Antes do evento (assista aqui), conversamos com ele sobre o tema. Confira a entrevista:

P: Quais as principais diferenças na preservação de fotografias digitais e aquelas de papel e filme flexível?

R: As fotografias em papel e filme flexível precisam dos cuidados que utilizamos para a guarda de objetos. Processados, embalados e acondicionados em ambientes ideais para a guarda de objetos, com controles de temperatura, umidade relativa e filtragem do ar, proteção contra danos naturais e não naturais. Se realizamos todas essas etapas, esses objetos poderão ser preservados por muitas décadas e séculos sem grandes deteriorações. E, durante esse período, será possível acessar os objetos sem o uso de qualquer aparato de visualização. As fotografias digitais têm uma materialidade muito diferente. São unidades de informação, bits, 0s e 1s, armazenados em dispositivos, objetos, presentes localmente ou distantes que necessitam de uma série de elementos para que possam ser codificados em uma imagem – softwares para interpretar os dados, sistemas operacionais em que o software irá rodar, sistemas de armazenamento e formas de conexão com estes sistemas e redes de comunicação e transferência da informação. Tudo isso, em constante evolução. Tudo que usamos hoje será obsoleto em uma ou duas décadas. Agora, estamos guardando informação e não mais somente objetos.

Assista

A palestra "Photo Finished: A preservação, ou não, de fotografias digitais", apresentada por Millard Schisler no Preserva.ME 2019:


P: Quais são os principais desafios e oportunidades na preservação dessas duas categorias? 

R: Os desafios são diversos, mas podemos pensar, principalmente, em recursos humanos e materiais. Precisamos de pessoas qualificadas para lidar com essas novas questões que estão em constante mudança. Isso demanda treinamento, investimento, educação e formação contínua. Precisamos de dinheiro. Em 2008, David Giaretta falou durante um treinamento: “preservação digital é algo muito fácil de se fazer… desde que possamos ter muito dinheiro para sempre”. Importante perceber que o investimento tem que ser contínuo. Por isso, inúmeros estudos da última década mostram que os custos para o armazenamento da informação são muitas vezes superiores aos custos para o armazenamento de objetos como fotografias, livros e documentos em papel.

P: O que o público do Preserva.ME 2019 pode esperar encontrar na sua palestra “Photo Finished: A preservação, ou não, de fotografias digitais”?

R: Quero falar da fotografia digital e como poderão ser as nossas abordagens no intuito de preservar um pequeno pedaço da produção contemporânea. Os desafios são grandes e proporcionais ao volume de produção de imagens da nossa cultura. Apontarei algumas propostas de ação na minha fala.

Rayssa Dias

Jornalista pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), possui cursos e experiência profissional em comunicação empresarial, nos segmentos de produção de conteúdo e assessoria de imprensa. Na Memória da Eletricidade é responsável por intermediar o relacionamento da instituição com a mídia, cobrir eventos, planejar e desenvolver conteúdos.