Breve histórico da Companhia Paulista de Força e Luz – CPFL

Postado em 16/11/2020
Paulo Brandi

Graduado em História pela Universidade Federal Fluminense (UFF), iniciou carreira profissional no Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (Cpdoc) da Fundação Getúlio Vargas (FGV). É pesquisador da Memória da Eletricidade desde 1987, onde coordenou diversos trabalhos publicados pela instituição, entre os quais, "Eletrificação rural no Brasil: uma visão histórica".

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O uso da eletricidade no Brasil tornou-se relativamente importante a partir do início do século XX, com a multiplicação de empreendimentos de geração e distribuição de energia elétrica, especialmente em São Paulo, Minas e Gerais e no Rio de Janeiro.  

Em 1910, diversas cidades do interior paulista já eram atendidas por pequenas empresas que produziam energia elétrica de origem predominantemente hidráulica. Organizadas em geral por comerciantes e fazendeiros locais, essas companhias começaram a se aglutinar, passando a controlar áreas mais ou menos extensas do território estadual.

Foi assim que surgiu a Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL).

Ponto de partida 

1912 – A CPFL, que completa 108 anos nesta segunda-feira, 16 de novembro, é fundada por iniciativa dos engenheiros e empresários Manfredo Antônio da Costa e José Balbino de Siqueira, tendo por finalidade, segundo seu estatuto original, “a exploração industrial da eletricidade em todas as variadas aplicações no estado de São Paulo”. Na sua formação, a companhia incorpora a Empresa Força e Luz de Botucatu, a Empresa Força e Luz de São Manoel, a Companhia Elétrica do Oeste de São Paulo e Empresa Força e Luz Agudos Pederneiras, responsáveis pelo fornecimento de energia a 13 municípios da região central do estado. Em 1919, a CPFL assume o controle da Empresa de Eletricidade de Bauru que, além deste município, atendia a áreas vizinhas.

Chegam os americanos

1927 – Os acionistas da CPFL transferem o controle acionário da companhia para a American & Foreign Power Company (Amforp), empresa do grupo norte-americano Electric Bond & Corporation. Os diretores brasileiros, tendo à frente o presidente José Balbino de Siqueira, renunciam aos seus cargos. Além da CPFL, a Amforp adquiriu o controle de outras concessionárias que atuavam no interior paulista e em várias capitais do Nordeste ao Sul do país. 

Por intermédio da CPFL, a Amforp promove trabalho pioneiro de interligação de sistemas elétricos no país, unificando a frequência de suas subsidiárias paulistas no padrão 60 Hertz (Hz) e implantando modernas linhas de transmissão em 66 quilovolts (kV). O trabalho resultou na interligação de vinte pequenas usinas com 50 MW de capacidade instalada que passaram a operar de forma centralizada. Em paralelo, Departamento Comercial da CPFL organizou equipes de venda e demonstração de aparelhos elétricos, na época, ainda pouco difundidos no interior do estado.

CPFL se consolida

1947 – Autorizada pelo governo federal, a CPFL inicia a incorporação das 22 empresas subsidiárias da Amforp em São Paulo. Concluído o processo em 1950, a companhia passou a responder pelo atendimento de 155 municípios e aproximadamente 300 núcleos urbanos, entre os quais Campinas, Ribeirão Preto, Bauru, Araraquara e Piracicaba. 

1957 – Pioneira na exploração do rico potencial energético do rio Grande, a CPFL inaugura usina hidrelétrica de Peixoto (Marechal Mascarenhas de Morais), no trecho do rio próximo à divisa de São Paulo com Minas Gerais.

Sob controle do Estado 

1964 – A CPFL e as demais concessionárias do grupo Amforp são adquiridas pela Eletrobras e passam a integrar o quadro de subsidiárias da empresa holding federal.

1973 – A usina Mascarenhas de Moraes com capacidade final de 476 megawatts é comprada por Furnas.  

1975 – Por acordo entre a Eletrobras e o governo paulista, a Centrais Elétricas de São Paulo (Cesp) assume o controle acionário da companhia, mantendo a CPFL personalidade jurídica própria e o perfil de empresa tipicamente distribuidora de energia elétrica.

1978 – A sede da companhia é transferida para Campinas. 

1986 – A CPFL é primeira empresa de energia elétrica a firmar contratos de compra de energia de biomassa proveniente da cana de açúcar.

Privatização e expansão das atividades 

1997 – A CPFL é privatizada pelo governo de São Paulo e passa para o controle do consórcio constituído pela VBC Energia, o Fundo de Pensão dos Funcionários do Banco do Brasil e a Bonaire Participações, que reuniu outros fundos de pensão de empresas estatais. Na época, a companhia atendia a 225 municípios paulistas e seu parque gerador somava 147 megawatts de capacidade instalada. Participante ativo do processo de privatização do setor elétrico brasileiro, a empresa VBC Energia foi formada pela associação entre o grupo Votorantim, o Bradesco e a Camargo Corrêa. 

1998 – O consórcio formado pela Eletricidade de Portugal (EDP) e a CPFL vence o leilão de privatização da Empresa Bandeirante de Energia (EBE), concessionária criada em decorrência da cisão dos ativos de distribuição da Eletropaulo - Eletricidade de São Paulo

2000 – Constituição da CPFL Geração de Energia, como resultado da cisão das atividades de geração e distribuição executadas pela CPFL. 

2001 – A CPFL assume o controle da empresa Rio Grande Energia (RGE) e a responsabilidade pelos serviços de distribuição em mais de duzentos municípios gaúchos, entre os quais, Caixas do Sul, Gravataí, Passo Fundo, Santo Ângelo e Santa Rosa, anteriormente atendidos pela Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE). No mesmo ano, ocorre a cisão da EBE em duas concessionárias: a Bandeirante Energia, controlada pela EDP, e a Companhia Piratininga de Força e Luz, sob controle da CPFL, concessionária em 27 municípios paulistas, entre os quais, Santos, Cubatão, Itu, Sorocaba e Jundiaí.

2002 – Criação da holding CPFL Energia, reunindo sob uma única bandeira os ativos três companhias de distribuição – duas em São Paulo e uma no Rio Grande do Sul -, 19 centrais hidrelétricas, uma termelétrica e mais as empresas geradoras de propósito específico Serra da Mesa Energia, Barra Grande Energia, Complexo Energético Rio das Antas (Ceran), Foz do Chapecó Energia e Campos Novos Energia.

2004 – A CPFL Energia realiza sua primeira oferta pública na Bolsa de Valores de São Paulo e na Bolsa de Nova Iorque

2009 – Grupo Camargo Corrêa assume o controle da CPFL Energia.

2010 – CPFL inicia a operação de sua primeira termelétrica a biomassa, instalada em Pirassununga (SP), em parceria com a usina de açúcar e álcool Irmãos Baldin. 

2011 – Constituição da CPFL Energias Renováveis, reunindo ativos e projetos de Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCH), termelétricas movidas a biomassa de cana-de-açúcar e usinas eólicas e solares.  

2016 – CPFL Energia inaugura a subestação Piracicaba (SP), seu primeiro empreendimento de transmissão de energia, e conclui a compra da distribuidora gaúcha AES Sul. Com a ampliação de sua base de distribuição, o grupo CPFL passa a atender a 679 municípios e mais de nove milhões de clientes.  

2017 – A empresa estatal chinesa State Grid assume o controle da CPFL Energia no início do ano, concluindo a aquisição de 54,64% de participação acionária da companhia que pertenciam à Camargo Corrêa e a aos fundos de pensão Previ, Fundação Cesp, Sabesprev, Sistel e Petros. Em novembro, a State Grid realiza Oferta Pública de Aquisição, por meio da qual passa a deter 94,75% do capital social da holding.

2018 – Criação da CPFL Soluções, com a unificação das marcas CPFL Brasil, CPFL Serviços e CPFL Eficiência.

Leia também: CPFL chega aos 108 anos de olho nos próximos cem

Fontes de consulta

Livros

CENTRO DA MEMÓRIA DA ELETRICIDADE NO BRASIL História da operação do sistema interli¬gado nacional. Rio de Janeiro, 2003.

_____ . Panorama do setor de energia elétrica no Brasil=Panorama of electric power sector in Brazil. 2. ed. Rio de Janeiro, 2006.

DINIZ, Renato. 100 anos de história e energia. São Paulo: Via das Artes, 2012

LEITE, Antonio Dias. A energia do Brasil. 3. ed. rev. atual. Rio de Janeiro: Lexikon, 2014.

Teses

DINIZ, Renato de Oliveira. A intervenção estatal no setor elétrico paulista: as grandes empresas e as grandes usinas – 1953/1997. Tese (Doutorado). Programa de Pós-Graduação em História Social. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Universidade de São Paulo. 2011.

MORTATI, Débora Marques de Almeida Nogueira. A implantação da hidreletricidade e o processo de ocupação do território no interior paulista (1890-1930). 2013. Tese (Doutorado). Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo, Campinas, SP. Disponível em: <http://www.repositorio.unicamp.br/handle/REPOSIP/257929> Acesso em 10 nov. 2020

Relatórios

CPFL Energia. Relatório anual 2008. Disponível em: <file:///C:/Users/USER/Downloads/arq_160_224934.pdf> Acesso em 11 nov. 2020 

_____. Relatório anual 2019. Disponível em: <https://www.cpfl.com.br/institucional/relatorio-anual/Documents/CPFL_RelatorioAnual2019.pdf > Acesso em 11 nov. 2020

Portais na Internet

CANAL ENERGIA. Disponível em: <http://www.canalenergia.com.br>. Acesso em: 10 nov. 2020.

CPFL Energia. Disponível em: < https://www.cpfl.com.br/institucional/quem-somos/nossa-historia/Paginas/default.aspx > Acesso em: 10 nov. 2020. 


Paulo Brandi

Graduado em História pela Universidade Federal Fluminense (UFF), iniciou carreira profissional no Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (Cpdoc) da Fundação Getúlio Vargas (FGV). É pesquisador da Memória da Eletricidade desde 1987, onde coordenou diversos trabalhos publicados pela instituição, entre os quais, "Eletrificação rural no Brasil: uma visão histórica".